quarta-feira, 2 de setembro de 2009

então eu disse: minha única alegria é o vento que vem da janela, a minha única alegria tem sido o vento que vem da janela e sopra leve – não é um vento, é uma brisa menina – sopra leve me desanuvia a testa, os olhos, a pele do rosto a pele ressecada ressentida do rosto

essa brisa que me sopra todas as tardes quando morro do meio-dia às quatro, morro do meio dia às quatro todos os dias porque não consigo existir do meio dia em diante – até as quatro

morro branca embaraçada numa massa de cabelos escuros, secretamente esperando planejando afogamento por cabelos, será que existe isso, se não existe podia existir – morro branca sonhando que meus cabelos me naufragaram, que minhas veias explodiram, que o meu sangue secou, que o meu sangue jorrou garganta boca e orelhas, que eu morri engasgada de sangue ou sem ar de tanto que parei

de tanto que parei que não consigo - mal consigo me levantar, mal consigo voltar a existir, a sorrir, ser educada diligente agradável sucesso social, mal consigo ficar de pé, andar pra mim é difícil, o ritual da manhã é difícil, o almoço, o morrer à tarde, a nocaute para dormir

cada ritual
de cada coisa e minuto
me é difícil
a ponto de enlouquecer.

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