terça-feira, 18 de agosto de 2009

nada não muda nunca


está aqui esta mulher, andando de salto alto pela casa, a mulher que anda e dança enquanto anda, e tem os cabelos num coque impecável e brincos e pulseiras e anéis, que fuma com elegância cigarros delicados de mulher, que se perfuma e tem as unhas feitas, escolhendo o vestido que usará amanhã para ir ao psiquiatra, para convencer o psiquiatra de que está bem, muito bem obrigada, nunca esteve melhor – ela usa maquiagem e tem os cabelos presos num coque impecável – 6 anos de tratamento não foram em vão, tem que se convencer – antes de convencer o psiquiatra - que a menina assustada, irresponsável, que a menina que usava cores e cores ao mesmo tempo, que essa menina não mais existe, nenhum registro, nem os diários – a mulher elegante queimou os diários, queimou tudo o que fosse comprometedor, vestidos e cartas e rosas guardadas, essa menina não existe, não existem seus cortes e a boca rasgada e a violência, não existe mais a menina grande demais para chorar no chão do quarto mais ainda assim, a menina com sede a menina com fome a menina incapaz de parar a menina


que tinha o coração cheio de sal
como a mulher.

Nenhum comentário:

Postar um comentário