sábado, 8 de agosto de 2009

tenho lido muito sobre fugas. tenho lido sobre mulheres presas em quartos, em casas, em livros que não podem escrever. tenho lido sobre mulheres de coração apertado e com excesso de sangue, e homens covardes ou vampiros ou fracos. tenho brigado com as pessoas que chamam de covardia o que na verdade é um ato de coragem, ou de cansaço. ir embora não é covardia, procurar a água não é covardia, decidir dormir e nunca mais acordar é coragem, pois perde-se muito. perde-se o sol, o riso, o vento, perdem-se filhos e pais e amigos e amantes. perde-se a vida. virar as costas e seguir para longe de todas essas coisas é a coragem mais triste, é admitir que não, não fui feita para isto.

não é que aqui não me cabe, é que sou eu quem não pode ficar, sou eu quem não tem ossos fortes o suficiente, nem saliva para engolir, nem pés firmes, nem roupas para o frio. meus dentes não são mais de leite e a minha raiva é ruim e eu sofro e tenho culpa, e sou uma farsa, e nunca chegarei a nada e estou cansada de partir.

não se deve anunciar a fuga, a não ser que na verdade você não queira fugir, mas queira um resgate. nada de cartas, de livros enviados pelo correio com bilhetes doces e muito óbvios de "então, amor, até a vista", nada de etiquetar roupas e objetos "isto vai para fulano" nem de telefonemas no meio do caminho. a grande questão é: e as cartas de despedida, as cartas para depois? seria ético ou cruel?

há muito tempo não consigo me decidir, há muito tempo mordo e me arrependo, sofro e me canso, há muito tempo eu não sei. eu amo e me amam muito de volta, e por isso tenho ficado. mas não sei até quando aguento, e por isso, por via das dúvidas, eu tenho feito da minha vida uma eterna despedida.

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